UMA PAUSA NA RAZÃO E MEU DESCANSO NA LOUCURA

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Fim não é assim!

Por favor...
Não apareça na minha frente hoje.

Me dê um tempo, um espaço,
Me deixe sentir sua falta,
Ou melhor,
Me deixe perceber de uma vez por todas
Que você não faz falta!
Me deixe pensar em outras coisas,
Querer outras pessoas,
Respirar outro ar que não o da sua expiração.
Já basta a noite que me tomaste inteira...
Precisava ocupar meus sonhos,
Tornar-se a inspiração para os devaneios,
Aparecer dentro dos livros de cabeceira?

E depois de me acordar mais cedo,
Tendo já tirado meu sossego,
Continuas, pelo dia afora,
Sem minha permissão,
Sendo meu sentimento primeiro.

 Fim não é assim!

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Tempo de Renovação

É preciso lapidar as certezas, os gestos,
As palavras, os sonhos, os versos.
Até ficar despido, puro,
Simples desse jeito...

É preciso abrir o coração,
Concretizar a ternura, o beijo.
Até gerar a emoção, o lirismo,
A sensibilidade mesmo.

É preciso limpar o cansaço, a tristeza,
Apurar a visão e enxergar as belezas.
Sujar as mãos, forçar a hora,
Até mudar a história.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Dor de amor


Essa dor eu conheço, porque já amei muito.
Muitas vezes e de muitos jeitos,
E quero amar ainda mais de mais maneiras diferentes.
Sejam quem forem as pessoas.
Isso na verdade é o que menos importa.
Importa é não deixar que o coração se feche.
Importa é sensibilizar-se com a singularidade do outro.
Importa é não cair na tentação de tentar entender.
Não dá para entender.
Não tem explicação.
Sente-se e pronto.
E vive-se.
Desejo que você tenha vivido intensamente isso.
Com a insegurança própria de quem aceita arriscar.
Sem certezas.
Permitindo-se ser o que nunca foi
E dizer o que não planejou.
Arriscando ganhar o afeto pelo qual sempre sonhou.
Porque são experiências assim
Que nos reconectam com aquela parte de nós
Que nem lembrávamos mais que existia.
E o segredo é fazer bom uso disso enquanto durar.
Porque quando não for mais para o bem dos dois,
O melhor é que o amor se dilua.
Se esvazie para que possamos recomeçar.

Quem já amou sabe, amor não acaba, 
Não passa assim só porque desejamos, 
Não desaparece como mágica.
Ele fica ali, adormecido, ao lado das boas lembranças
E dos sentimentos bons que dele adviram.

Ao seu lado fica também a saudade, a ausência, a falta, o buraco...
Buraco sem fundo que já aprendemos que nada preenche.
E que invariavelmente passamos a vida 

Tentando descobrir como lidar com ele.
Até que vira e mexe e não o amor, mas a dor passa.
E outro amor chega.
E a gente finge que não estava procurando,
Que não tá nem ligando, 

Nem querendo, 
Nem  gostando...
Mas vive. 
Só pra sentir de novo que o coração ainda bate.
 

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Cativar



“A gente corre o risco de chorar um pouco quando se deixou cativar.” 
Antoine de Saint-Exupéry

Ou um muito.
Muito tanto que quase me arrependo de ter permitido. 
Que quase brigo comigo. 
Que quase me afogo em meu próprio mar. 

Cativar:
Catar os pedaços do outro e juntar.
Ativar carinho e cuidado e amar.
          
Vulnerabilidade.
Insegurança. 
Receio. 
Saudade.
Vontade.
Medo.
Raiva.
Desespero.
Desilusão. 
Provocação. 
Compaixão.
Paixão.

Tudo de uma só vez, 
Cabeça girando a mil.
E você fingiu que não viu.

Verbo ESTAR


Então aqui estou, depois de um certo tempo, na verdade, um longo tempo, procurando novamente me salvar através das palavras. Desde os diários, agendas, passando pelos cadernos de anotações e depois o vazio. Após o vazio, teclado e monitor à frente me ajudando a encontrar a mim mesma. Já ouvi dizer que muitos artistas da literatura, música, pintura, escolheram a arte como forma de se relacionar com o próprio imaginário redirecionando os fantasmas, organizando as ideias e fugindo da loucura. Se conseguiram o objetivo almejado eu não sei, mas para quem fez da literatura sua melhor companheira em tempos de silêncio e resignação, com certeza brincar com as palavras é como voltar para casa. Retornar ao princípio de tudo. Ao começo do fim da pessoa que eu fui e ao início da busca pela pessoa que ainda serei. Após relutar por anos vejo-me novamente em uma situação de vida ou morte. Sim, ou escrevo, ou me perco de vez, se é que isto ainda não aconteceu.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Perdendo-se

Me perdi no seu abraço e ainda não quis me reencontrar.
Sua voz ficou guardada e o tempo todo é ouvida, repetida.
Seus segredos, minhas revelações, nosso encontro.
Impulsivamente, calmamente, sentindo tudo exceto a mente.
Tempo que tomou outra dimensão, controle escorrendo pelas mãos.
Noite anunciando o fim do dia, choro transformado em alegria.
Seu sussurro, meu arrepio.
Mas não há mais sussurros.
Só a lembrança do jeito.
Do peito.
Da voz.
Do pedido.
Você pedindo sem saber um pouco de mim.

E eu dizendo sim.

.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Minha estação preferida


É outono.
Dentro e fora de mim.
São as folhas caindo das árvores,
E minhas certezas despencando do peito.
Rasgam-se roupas, máscaras, defeitos.
Haverá jeito?...

"Sabe o que eu mais quero agora meu amor?
Morar no interior do meu interior..." *

 ... pra vasculhar o que realmente quero,
rever as expectativas que criei e as respostas que espero...
Ficar quieta, manter-me em silêncio observando,
até o coração aceitar o que ainda está chegando...
Dar logo um jeito de aprender a revelar segredos,
atender desejos, sem sentir medo...
Depois, permitir-me ficar só espiando a vida que passa,
buscando meu estado de graça!


* Vander Lee

sábado, 16 de abril de 2011

Angústia


Meus sonhos, até os ainda não nascidos
Precisam de alguém para gestá-los comigo.
Minhas frustrações querem ser divididas,
Ser pelo menos ouvidas,
Acolhidas por um coração
Que possa diminuir sua proporção.

Quisera eu mostrar-me menos completa,
E deixar meus vazios a mostra,
Assim quem sabe não se fariam mais apostas,
Nem jogos, nem trocas.

Nasci para a entrega
Mas não sei mais me entregar sozinha.
Estou sedenta,
Me falta essência.

A sede me enfraquece,
Me leva ao delírio.
Não me permite enxergar o que tenho,
Venda meus olhos, desnorteia, embaça o perigo.

Até quando seguirei assim,
Criando personagens ao redor de mim?
Até quando abraçarei a solidão, conhecida antiga,
Como se fosse uma amiga?

Tenho medo de esquecer quem sou,
Já que perder-me já está me acontecendo.
Tenho medo de desistir do amor,
Mesmo não querendo.

Busco lá dentro da alma
O resto de fé que me enlaça,
E este resto é tão cheio de graça,
Que é suficiente para que eu ainda queira rever.

Rever minhas palavras, meus atos, meus sentimentos...
Rever meu jeito de relacionar com o tempo,
Julgando a vida longa demais
E supondo que nunca será tarde demais.

Rever minhas escolhas, meus caminhos,
Abraçar a mim mesma e dar o passo.
Matar a sede mas não por completo,
Pois só assim conseguirei enxergar
As possibilidades que estão por perto.